Fissuras no espelho realista do jornalismo: a narratividade crítica de Barcelona
Nesta pesquisa são investigados modos peculiares de agenciamento do real e de transfusão poética da realidade operados pelo jornalismo. Para isso, analisa-se a publicação argentina Barcelona, encarada como um objeto problematizador e tensionador de um discurso jornalístico baseado em pressuposições como o espelhismo e na defesa do relato noticioso como um fragmento externo, alheio à configuração narrativa. Nesse sentido, o estudo abrange a constituição histórica dessa identidade jornalística cristalizada, bem como dos paradoxos engendrados por essa concepção. Visto isso, são analisadas algumas das estratégias para entendermos como Barcelona aciona esses paradoxos e contradições como possibilidades inventivas na constituição de mundos narrativos peculiares. O gesto metajornalístico da publicação nos permite aproximá-la a teorias narrativas contemporâneas para investigarmos os textos jornalísticos como criações discursivas, tessituras de intrigas que se constituem a partir de domínios éticos, poéticos e estéticos. Assim, as narrativas jornalísticas são encaradas neste trabalho como fenômenos textuais complexos, constituídos no bojo das interações das comunidades interpretativas de que são parte. O amparo narrativo permite entrever a existência de variados agentes na produção de sentidos no jornalismo e, assim, o jornal passa a ser concebido como um lugar de experiência, de proposta para instituição do real que, por configurá-lo, não pode solapá-lo nem abarcá-lo por completo.